O mundo antes do Spotify ou a nostalgia trazida por The Playlist

Parece tão estranho dizer agora que as primeiras músicas que eu ouvi eram em fita k7 num trombolho quadrado que hoje ocupa uma parte da entrada da sala da minha mãe sem uso. Mas é impossível não pensar nele e não sentir a nostalgia de segurar uma fita nas mãos, de apertar o play e não saber se ela vai rodar, ou se é o lado certo, ou se é aquela música que você queria ouvir.

Parece impossível não lembrar disso na metade do segundo capítulo (ou seria melhor episódio?) de “Som Na Faixa” (The Playlist). Assim como os downloads do E-mule e outros sites que surgiam e caiam em uma velocidade tamanha para a época, mas nada comparado ao que se tornou hoje.

A primeira vez que ouvi Black Crowes foi assim. Um download errado no E-Mule e bang. Lá estava minha nova banda favorita que perdura até hoje. E a pior parte é que nem lembro qual era a música que eu realmente estava procurando. Essa era a beleza da coisa, você podia ouvir coisas que nunca tinha ouvido antes a apenas alguns toques do mouse e algumas horas. Sim, horas porque estava no Brasil e a minha internet não era aquelas coisas e não tinha a rapidez que temos hoje.

Mas voltemos a Som Na Faixa (The Playlist). A minissérie conta, de forma brilhante e apaixonada, a história do Spotify. Talvez nem tenha sido exatamente assim, mas que de fato consegue retratar o espírito da plataforma isso é. A introdução que escolhe qual personagem irá contar a história naquele episódio é fenomenal. Primeiro porque tem tudo a ver com a própria usabilidade do programa, segundo porque passa uma ligeira ilusão de que somos nós que escolhemos.

Não contarei muito mais que isso para não gerar spoilers.

Depois que aquele sorriso do canto de boca da nostalgia passou e os meus olhos pararam de ficar perdidos entre as nuvens e desceu para as cortinas brancas da sala, eu cai na real. O sonho de ter música ao alcance era lindo, mas a realidade que vemos hoje pode não ser das mais bonitas. Vou explicar o porquê do meu pessimismo.

Tem uma cena (ih, lá vem spoiler de leve!) que o dono do Pirate Bay fala para o Per, da Sony na Suécia, que são eles que vão decidir os valores e que os artistas podem sobreviver de turnês e merchandising. E sabemos no que isso resulta.

Esses dias estava conversando com meus irmãos mais velhos que me diziam que o preço dos ingressos na época era outro, muito mais barato dos que os valores praticados hoje em dia. E faz sentido, já que, segundo a cena da visão do Peter, era dai mesmo que deveria vir o dinheiro. Ou seja, não pagamos a famigerada indústria musical na venda dos cds, mas continuamos pagando e dessa vez através dos shows.

Não me entenda mal, eu adoro a praticidade de ter música ao alcance da mão em qualquer lugar. Acho isso lindo demais. Também gosto da ideia de poder encontrar artistas novos o tempo todo e de países que provavelmente nem teria acesso. É a minha versão 2022 da garota que baixava nomes aleatórios no E-Mule para descobrir coisas novas.

Som Na Faixa (The Playlist) na Netflix é a história do streaming dentro do streaming, tal qual como aquelas bonequinhas russas. Ou ainda naquela expressão: o roto falando do rasgado. Apesar da expressão grosseira e da veia negativa que esse texto entrou, a história é importante, é bem produzida e vale a pena ser assistida. Melhor, deveria ser obrigatória a todos que escutam, trabalham e vivem de música, não só como diversão/nostalgia/aprendizado, mas quando a gente olha para o passado, somos capazes de refletir.

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