Seja pelos pequenos palácios, as joias brilhantes, os vestidos suntuosos, os jantares recheados de comidas belíssimas e os bailes mais interessantes que a nossa imaginação permitir, volte e meia as ilusões que fazemos quanto ao ar romântico do século XIX caem nas graças da mídia. Provavelmente, sempre que a tecnologia avança e estamos prestes a mudar o mundo de novo, entramos na deliciosa melancolia de imaginar em como devia ser mais fácil a vida simples, encontrando o amor verdadeiro passeando por aqueles campos verdes imensos entre os castelos ingleses.
E quando isso acontece, nossos olhos (queiram ou não) sempre se voltam para o olhar daquela jovem de Steventon sobre o cotidiano da Inglaterra rural relatando aventuras em passeios de carruagem. Na onda do sucesso viral da adaptação do romance de Julia Quinn, Os Bridgertons, a Netflix tem mergulhado de cabeça nas obras de Austen. “Persuasão” foi lançado em julho de 2022 e recebeu uma enxurrada de críticas negativas. A produção tentou usar uma linguagem atual pra trazer o romance pros dias de hoje. Até aí tudo bem e é válido, afinal produções audiovisuais não precisam seguir a risca os livros, ao contrário do que muita gente acredita.
O problema da versão de Persuasão foi que a história se tornou vazia, assim como seus personagens. E aí está o grande erro. Jane Austen é justamente conhecida por transpor a complexidade humana e a diferença dos pequenos universos de cada ser em suas histórias. A construção de Anne Elliot nas telas gera zero conexão e se o objetivo era sentir vergonha, bem, ele foi atingido.
Confesso que nunca tinha lido Persuasão, mas, em minha defesa, Orgulho e Preconceito é uma das minhas histórias favoritas de todos os tempos. Por isso, me considero austeniana, se é que é assim que se chama hoje em dia (ou alguma vez na vida!). Enfim. Meus olhos brilhantes e curiosos esmoreceram a cada minuto, terminei de assistir porque até o final tinha uma leve esperança. Depois, senti raiva.
A raiva, dizem, é o que movimenta o ser humano. Bem, ela me levou a efetivamente ler o livro, então faz sentido sim. E uma noite chuvosa em que eu estava entediada abri o Kindle no celular e comecei a buscar por uma edição de Persuasão.
Só que a vida é uma coisa engraçada né? Eu encontrei um box maravilhoso com Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Emma e fiquei apaixonada por uma capa linda! E o melhor: estava dentro do Prime Reading da Amazon! <3
Então, claro, fui embalada pela vida contemporânea e a atenção de dois segundos que todos estamos fadados a ter hoje em dia! (Se você chegou até aqui, parabéns por não se vender ao sistema e superar o déficit sofrido pela humanidade atual!) Claro que abracei ele com muito carinho e comecei a ler obviamente: Orgulho e Preconceito.
Gosto de ler histórias que já li e que já gosto por dois fatos. Primeiro, pra saber se a Daniela de hoje ainda gosta mesmo daquele livro ou daquela história. E nessa caso, sim, fiquei ainda mais apaixonada. Segundo, pra absorver algo que estava lá e eu perdi. É difícil perceber os detalhes e a não ser que você faça uma análise muito profunda muita coisa passa.
Essa é a história de quando fui ler Persuasão e acabei novamente em Orgulho e Preconceito. Essa Jane Austen!