“Trago promessas adormecidas no coração e outras que morrem por falta de coragem.”. É com esse misto de compreensão e tapa na cara, transvestidas com a leveza que só a poesia traz, que Cristina recheia “Cartas de Coração”. O livro traz trinta artigos escritos em prosa poética e poemas que falam sobre se relacionar com outro e consigo mesmo que caberiam na boca de poucos, mas no sentimento de muitos. A autora descreve com tanta sensibilidade artística momentos tanto cruciais quanto cotidianos. “Um olhar irreversível através do qual Orpheu perdeu Eurídice.”. A transformação de um sentimento universal em arte parece a saída fácil, mas nunca o é realmente. Poucos retratam com autenticidade artística e quase pictográfica, momentos em que os seres humanos, ainda que com todas as suas diversidades, viveram. Seja por um amor perdido, por uma escolha equivocada, um pequeno lapso que impede de realizar um sonho. “Avanço a passo incerto com o coração nas mãos.”. Assim as personagens de Cartas de Coração ganham vida e proximidade, compreensão e conexão. Em textos introspectivos sempre supomos que é o autor, e sempre o é e o nunca o é. Cristina levanta essa discussão quando se percebe que as cartas poderiam ser minhas, suas, dela e nossas. O tal do inconsciente coletivo de subjetividades.
Esse é o terceiro trabalho da autora nascida na França e que passou a infância em Portugal. “Cartas de Coração” foi publicado pela editora Poesias Escolhidas, com edição e revisão de Ottavio Lourenço e capa de Carlos Guilherme Nascimento. O livro está repleto de histórias como pílulas poéticas em diversos olhares e amores declarados e não declarados, retribuídos, platônicos, perdidos e achados com um lirismo que remete à aura de Baudelaire, ainda que com uma visão mais interna e sentimental.
Sobre a autora
Cristina M. Branco é escritora, fotógrafa e articulista no LUSOJORNAL. Nasceu em Paris, no bairro de Montparnasse. Na infância regressa para Portugal, tendo concluído o liceu na área de literatura. Frequentou a Alliance Française onde obteve um DHEF (Diplôme de Hautes Études Françaises). Em 2003 regressa a França, onde se inicia à fotografia tendo em 2011 organizado uma exposição sob o tema “Photo de Rue”, uma série de fotos dos mais belos grafites dos muros de Paris imprimidos em tela. Em 2016 foi publicado “Quand vous lirez ces mots…” uma recolha de prosa poética em estilo de escrita epistolar nas Edições Lanore, em Paris 6, o qual foi levado ao palco por diversas vezes através de performances poéticas e musicais. “Chanson lointaine”, Cântico Longínquo, romance, no estilo de viagem iniciática duma jovem parisiense em busca das raízes através da história do pai, desaparecido, misturando onirismo e realidade, é o segundo trabalho literário de Cristina M. Branco publicado na mesma editora na primavera de 2019. Em 2019 fundou com Odette Branco e Guy Calice, “Stella Felice”, um espaço artístico e cultural pluridisciplinar, companhia vocacionada no teatro e performances artísticas, cujo primeiro projeto foi levar ao palco a peça de teatro “Florbela la Soeur du rêve” de Odette Branco, inspirada na vida e obra de Florbela Espanca.
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