Estrelas de Papelão 

Esquecemos que todos morremos um dia. Mas também morremos um pouco a cada dia. Fato esse comprovado pelo fato de que as coisas de hoje não são como foram ontem. Sim, estou aqui chovendo no molhado e choverei todas as vezes em que precisar compreender melhor a vida. Falar coisas óbvias fazem a gente pensar melhor. Ou talvez as pessoas esperem que você vá inventar a roda em cada texto novo. Eu não sei e às vezes a ignorância é uma benção. Fato é que boas memórias não servem para serem revividas porque não serão. Quantas vezes o bom e o ruim estão sob uma linha tênue, mas tão fina que você mal consegue diferenciar?

Cada vez mais sinto que as coisas que me prendiam aqui não fazem o menor sentido. É como se a vida me desse o impulso lento para o trampolim que leva a lugar algum. Porque todas as coisas levam a lugar algum. Porque não há para onde se ir. E também não há porque ficar.
E entre esses devaneios incompreensíveis, aqui estou eu, deitada no escuro enquanto percebo pequenas luzes que vem de fora, da rua. Como se fossem estrelas de papelão. Palpáveis. Como se fossem palpáveis e de uma maciez tão exuberante que jamais as levaria embora. Sinto sua felicidade daqui e não gosto. Porque sou egoísta. Porque não sei e não consigo andar para frente. Porque meus passos largos me parecem tão pequenos que jamais alcanço o que quero. A distância corre enquanto me aproximo, por mais que eu corra junto. E eu corro, juro! E quando não mais me sobram pensamentos, quando não mais me penso, não existo. E só me resta fechar os olhos e me entregar, ao escuro e ao nada. Devemos ser nada para sermos tudo, repito enquanto adormeço.

13 comentários em “Estrelas de Papelão 

  1. Se cada dia cai,
    dentro de cada noite,
    há um poço
    onde a claridade está presa.

    Há que sentar-se na beira
    do poço da sombra
    e pescar a luz caída
    com paciência.

    Pablo Neruda

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    1. Lu! ❤ Que bom que gostou!!! Acho que sempre temos tudo e nada. Porque no fundo não temos nada, e quando somos capazes de criar consciência disso, então o mundo se abre. Mas isso foi o que eu aprendi, e sei que não há verdades absolutas! Beijos!

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