Hoje é dia 15.

Há 5 anos uma coisa muito doida aconteceu na minha vida. É o tipo de coisa que você sabe, mas nunca espera. E eu senti um misto de emoções que me deixaram confusa. A primeira delas foi alívio por ter tudo acabado. Porque não ia mais ter dor, nem desespero. É ruim ver alguém que você ama sofrer cada vez mais todos os dias e você não poder fazer nada. É o inferno. Porque aquilo dói e o melhor que você pode fazer por si mesmo e pelo outro é aceitar. A verdade é que não nos preparamos para as situações da vida. E a outra verdade é que tem situações que não temos como nos preparar. Os outros sentimentos foram culpa, raiva, tristeza e, acima de tudo, saudade. E uma sensação de que tudo aquilo era um sonho ruim, porque você fica anestesiado. Você fica olhando para a situação, mas é como se não fizesse parte dela exatamente.
Há dois anos eu estava em pleno sambódromo quando me lembrei que era dia 15. Fiquei pensando se deveria estar em Curitiba, se deveria ter ido no cemitério “honrar os mortos”, mas a verdade é que eu já o estava honrando. Eu estava ali num lugar que eu só tinha visto pela televisão. Estava ali numa situação nova, grandiosa, feliz. E sabia que onde ele estivesse estaria feliz por mim. Antes de morrer, meu pai estava fazendo planos para a vida, e acho eu, que ele se deu conta de quanto tempo perdeu com coisas que não mereciam isso. Quantas coisas que ele comprou que não iam ajudar ele em nada, quantas vezes ele disse coisas que não queria dizer e não disse as que queria. Isso tudo soa como um clichê, eu sei, mas é um padrão que se repete porque deixamos ele ser assim. Quem esteve perto de alguém, com a morte se aproximando todos os dias sabe como é.
Nunca fui a favor desses textos de saudade. Mas esse ano resolvi honrá-lo com uma das coisas que ele adorava fazer, mas fazia pouco: escrever. Obrigada, pai, por me mostrar que a gente tem que ir atrás dos sonhos, porque senão a morte os rouba também.

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