O Hotel

“Você vai gostar desse lugar”, disse ele me arrastando pela mão enquanto passeávamos pelos corredores. Era um hotel no centro da cidade, daqueles que não tinha uma fama boa. E confesso que o fato de passearmos de mãos dadas pelos corredores, me incomodava consideravelmente. Encontramos pelo caminho outros hóspedes que nos olhavam desconfiados. Parecíamos um casal apaixonado, exceto pelo fato de que eu não estava e sabia que mais cedo ou mais tarde tinha que dar um fim nisso. A ânsia dele em me agradar era notavelmente graciosa, e o que me fazia estar ali. Pareço egoísta, não é? E devo ser mesmo. Ao menos era assim que eu me sentia. E o olhar que a camareira me deu ao passar pela gente fez eu me sentir como se estivesse cometendo um crime. Porque as pessoas sempre acham que estamos fazendo algo errado?

Entramos no quarto e ele logo abriu os braços junto com um sorriso. “Não disse que você ia gostar? Você gostou, não é mesmo? Posso ver pela sua cara!” Eu dei risada e ele me deu um beijo. Não sei bem porque, mas eu gostava da ansiedade e da intensidade com que ele vivia as situações. Ele tinha um certo atropelamento ao fazer as coisas que me fazia dar risada. Correu abrir a cortina. “A vista aqui é ruim. Vamos, diga alguma coisa. Você gostou?” Andei calmamente pelo quarto, coloquei minha bolsa num gancho que servia para pendurar as coisas. O quarto era bege, ou qualquer cor que se assemelhe a isso. Sou pior em classificar as cores que muitos homens que eu conheço. Um marrom claro, talvez? Mas era agradável e limpo. “Gostei sim.” disse dando um beijo nele.

“Sabe o que é engraçado?” disse ele tirando os sapatos e se jogando na cama. “Eu vi você na rua esses dias e tive medo.” Ele me olhou sério, como se estivesse querendo ler meus pensamentos. “Como assim? Você ficou com medo do quê?” fiquei surpresa e, ao mesmo tempo, assustada com aquele olhar profundo em minha direção. “Eu tive medo que você me ignorasse.” Eu fiquei em silêncio e ele continuou com aquele olhar de interrogatório. Nesse momento, as luzes estavam apagadas e o quarto estava iluminado pela luz que vinha da janela. Honestamente, eu não sabia o que responder. Não sabia se estava pronta para assumir qualquer coisa naquele momento. Como não poderia saber qual seria a minha reação. As pessoas esperam que você saiba como agir em momentos surpresa, mas a verdade é que nem mesmo você sabe.

“Você não vai me dizer nada?” Ele sentou na cama com aqueles mesmos olhos. E eu fiz algo que eu odeio fazer. “O que eu tenho a dizer? Porque você acha que eu faria isso com você?” Ele relaxou e eu continuei tensa. Só conseguia pensar em como eu odeio mentir para agradar as pessoas. Podia ter dado risada, ou tirado a camisa ou beijado ele. Mas lá estava eu, sentindo-me como uma criminosa. Talvez a camareira estivesse certa quando me lançou aquele olhar.

“Bobeira minha, né?” Disse ele rindo. “A gente é especial. Você não faria isso comigo. Não você.” Tive uma vontade enorme de sair correndo. Era quase como se eu tivesse engolido uma dose de veneno e aquilo estava me sufocando e me deixando sem ar. Eu não estava apaixonada, apenas gostava da companhia dele. Enquanto eu estava ali, lutando contra os meus demônios internos em silêncio, ele desandou a falar. Era algo sobre uma garota e como ela estava apaixonada por ele. Ironia do destino. Ele sentia um carinho por ela, só isso. E desandou a fazer planos sobre lugares para onde poderíamos ir e coisas que deveríamos fazer. Enquanto ele estava ali, enebriado pelas ilusões que estavam se formando na sua cabeça, eu mal conseguia respirar.

Gargalhei e disse “Querido, porque não começamos com você tomando um banho?” Ele me beijou e sorriu. “Você vem comigo?” Eu sorri, virei a cabeça olhando para ele como se fosse a última vez. Peguei o rosto dele entre minhas mãos e o beijei intensamente. “Vá na frente que eu já vou.” Ele deu a volta na cama me olhando e sorrindo. Tirou a camisa e foi para o banheiro.

O que se passou a seguir foi tão rápido que não consigo me lembrar exatamente. Mas peguei minhas coisas e saí. Não podia ficar ali fingindo que tudo estava bem. Lá estava eu, fugindo covardemente. Pensando que eu devia ter prestado atenção ao sinal da camareira. Deixei um bilhete dizendo que ele deveria ficar com a menina apaixonada e pedindo desculpas. Não posso garantir que a frase foi mesmo essa, mas eu me lembro: “Desculpe, não posso fazer isso. Você devia ficar com a menina apaixonada.” Entrei no táxi que estava na frente do hotel.“Para onde moça?” Arregalei os olhos e mal conseguia pensar. “Só segue. Rápido.” Mal terminei a frase e a porta do táxi se abriu.

Ele estava ali, parado, com os meus sapatos. Droga! Esqueci os malditos sapatos. “Você esqueceu seus sapatos.” Ali estava eu, fugindo como uma criminosa. Maldita camareira. E então ele estendeu a mão para mim. “Vem que eu te levo embora.” Eu desci do carro, sob protestos do taxista, ao que prontamente eu respondi: “Eu disse para você ir rápido.” Apoiada com as mãos nele eu calcei os sapatos. E ele me abraçou. “É a terceira vez essa semana. Você tem certeza que não quer ir mesmo com o táxi?” Eu sorri e fiz um não com a cabeça. “Devíamos voltar para o quarto!” Ele deu risada e me deu um beijo na testa. “Maluquinha! Não sei o que eu faria sem você.” O amor é mesmo uma coisa engraçada.

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