Explicações de uma introvertida

A primeira vez que eu descobri que era uma pessoa introvertida foi numa aula de psicologia. Depois de uma discussão sobre o assunto e cada um falando o que achava que era, o professor afirmou categoricamente que apenas duas pessoas daquele grupo tinha essa característica de personalidade: eu e mais um menino.

Lembro que me senti extremamente constrangida na época (e o menino também!) e fiquei com raiva porque não entendia o que era e achava ruim. Queria ser extrovertida, parecia tão fácil. Mas ao mesmo tempo, até então a única pessoa que eu tinha achado interessante ali foi exatamente aquele menino. Fizemos um trabalho em grupo e eu e ele realmente estávamos preocupados com o trabalho enquanto as outras pessoas estavam falando sem parar sobre qualquer coisa que não fosse o assunto. Aliás, fazer trabalho em grupo era ruim porque eu era a chata sempre. Todo mundo queria falar do fim de semana, da vida, do namorado, da bebida, da sogra, da amiga filha da puta. Eu só queria fazer o trabalho. Nunca entendi qual era a dificuldade das outras pessoas em fazer aquilo que a gente tinha que fazer.

Hoje eu não tenho nenhum problema em ser introvertida, até gosto. Quando compreendi que algumas coisas faziam parte da minha personalidade, e as aceitei, eu fui mais feliz. Eu parei de me preocupar em ser como as outras pessoas, ou sofrer quando não conseguia.

Quem me vê no meio de um grupo de pessoas rindo bastante, contando piadas e falando besteira, jamais vai dizer que eu sou introvertida, mas as vezes preciso só ficar quietinha para me recuperar de tanta exposição. Quando eu me abro muito, seja para uma ou várias pessoas, eu preciso me voltar para dentro e ficar uns dias. E se você me encontrar num desses dias vai achar que sou tímida, fria ou que não gosto de você.

A verdade é que cansa muito para uma pessoa introvertida se relacionar e às vezes não vale a pena. Isso porque é um esforço muito grande você sair do seu mundo particular para interagir com o outro. Hoje eu peço cinco minutos, respiro fundo e falo: tá! Mas antes eu só olhava e fingia prestar atenção. Às vezes as pessoas não querem exatamente ser ouvidas, elas só querem falar. E aí digo que não vale a pena, o outro não precisa de você, podia ser um boneco que teria o mesmo efeito.

Alguns amigos não compreendem isso de cara. Quando você se fecha eles sempre perguntam o que foi que eles fizeram de errado. Só com o tempo eles percebem que é normal e faz parte. Muitas pessoas saíram da minha vida por esse motivo, porque ficaram com raiva, ou magoadas ou sabe Deus o quê. Só ficou quem conseguiu tirar as neuras e entender que não era pessoal, que eu não estava magoada, e que tudo estava bem.

10 comentários em “Explicações de uma introvertida

  1. Oi Daniela, gosto muito dos seus textos, depois de ler este fiquei pensando, acho que somos parecidas, me identifiquei bastante com as situações de trabalho em grupo no tempo de colegio, continue escrevendo e despertando lembranças nos leitores. Beijos e sucesso sempre!

    Curtido por 1 pessoa

  2. Sou assim também! Sofro um tanto quando tenho que ir para algum lugar, falar e interagir!
    Acho que não melhorei muito desde moleque, mas aprendi a lidar com este freio que carrego na cabeça! kkk
    Hoje, está tudo bem!
    Gosto muito de seus textos!
    :)

    Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário